domingo, 18 de setembro de 2011

Disfarce

Unhas rosas, salto alto, um vestido e um penteado novo. o espelho sorriu ao ver que houve uma mudança e ele riu por saber que não tinha motivo nenhum pra isso.
Nada de festa, encontro ou recomeço, apenas a vontade súbita de vê-lo. Ele, o espelho, gostou do que viu e refletiu os olhos de quem se sentiu bem com aquilo. Gostou, do nada, se gostou. 
Mas era tão sem motivo e sentimento, que toda aquela beleza lhe era distante e, ao refletir a face, ele lhe mostrou o que ainda falta. E se ofereceu para ficar ali, cuidando, olhando aquele rosto e refletindo o que nele havia de melhor.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Passado

Chegou como se nada tivesse acontecido, esperei um pedido de desculpas.
Mas só houve um olhar, aquele mesmo que nunca decifrei, aquele olhar que sempre consegue arrancar um sorriso meu.
Trouxe um presente que só nós dois sabemos o que representa, mas não disse se sentiu saudades.
Sumiu sem dizer pra onde ia ou se voltava.
Fez promessas que não cumpriu.
Passou pela minha vida sem dizer "eu te amo".

Ela acordou sem saber quem era, o que fazia ou o que queria. Olhou para o teto, vazio e mudo, e nada lhe veio à cabeça. Ficou deitada esperando que os travesseiros lhe dessem alguma resposta, mas eles também não dizam nada. O silêncio se fez inquietação e ela levantou à procura de companhia.
Na sala, as luzes apagadas eram sinal de vazio, enquanto na cozinha, a xícara a convidou para tomar café. A bebida quente e o aroma do pão fresco confortaram, por um instante, aquela que queria mais que um vapor para aquecê-la naquele começo de manhã fria e indiferente.
Ela esperava um abraço. Foi procurar no seu jardim, ainda escurecido pelas nuvens que não deixavam o sol nascer. Ainda não eram seis da manhã, e nem as flores haviam desabrochado e ela se manteve na sua solidão matinal. Além da solidão, a confusão sem abraço, sem resposta, sem ação, parecia que o mundo a ignorava e esquecera, tal como todos esqueceram de acordar naquele dia, ou como as nuvens ignoraram o sol e continuaram lá, mesmo depois de chover. Apenas para deixá-la só. E ela, já cansada e ainda imersa no vazio do seu pensamento, não tinha opção melhor que esperar alguma mudança ou sinal de vida.
Sentou, com sua segunda xícara de café, e observou suas flores enquanto o vento soprava seu rosto e afastava dali o véu que impedia a luz de chegar até ela. Foi o que bastou para se enxergar os botões florirem e ouvir o som, mesmo que distante, de um passarinho lhe dando a resposta que esperava: Tempo.