segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Anjos da Esperança

Outubro é sempre um mês de emoções afloradas em Belém. Além de uma manifestação religiosa, o Círio é uma festa para celebrar o amor de mãe e exaltar o que aprendemos com aquela mulher que ensinou o Filho de Deus a viver e morrer por amor ao próximo. Mais de dois milhões de pessoas unidas com o pensamento e orações elevados à Maria de Nazaré.
No meio de tanta gente, fica impossível dizer o que passa na cabeça e no coração de cada um. Mas é maravilhoso descobrir que entre todos os pedidos, agradecimentos, lágrimas e sorrisos, que as histórias podem se cruzar. Que a devoção pode reunir quem um dia se esbarrou por obra divina.
Foto: Arleisson Furo

Como diz a música, "amarras feitas pelas mãos da mãe de Deus", apenas temos que aceitar o que muitas vezes não entendemos. E se em cada Círio milhares de histórias atravessam a cidade, como pode elas se cruzarem duas vezes? Nossa Senhora manda seus anjos de luz para soprar em direção ao caminho do encontro, para continuar as missões que por aqui deixaram.
Não sei se é privilégio de muitos ter um anjo em sua vida, mas eu posso dizer com alegria que temos um na família. E nosso anjo se encontrou com outro que também é a alegria de uma família. E cada anjo deixou um gesto de amor às suas famílias. Um gesto a ser repetido, espalhado, distribuído em forma de terços. 
Sim, terços. Pequenas dezenas na verdade, que um dia minha mãe recebeu de uma senhora num momento difícil da vida, antes de uma virada, e que passou a repetir esse gesto, na certeza de que um dia alguém sentiria essa mesma emoção e sentimento, e sabe, aconteceu. Íamos todos juntos: mãe, pai, eu e as duas irmãs. E um desses muitos tercinhos espalhados chegou às mãos de outra pessoa que se alimentou de esperança e adotou a missão para si, e o melhor: compartilhou a missão com filhos e netos, que deram continuidade.

Anos depois, as protagonistas dessa história já não estão aqui fisicamente, mas olham pelos seus junto à Nazinha, e elas acharam que já era hora de nos encontrarmos. Por algum motivo, esse encontro aconteceu, repleto de abraços e lágrimas de felicidade. E o sentimento de gratidão era tão forte, como se de alguma forma fossemos responsáveis pela união das famílias uns dos outros. Não apenas o gesto inicial da doação do terço, que desencadeou uma produção e distribuição bem maior deles, mas também a lembrança desse gesto, para que a fé seja sempre presente e mostrar que nossos anjos também estão conosco o tempo todo.
Afinal, o que fica são nossas ações, o amor que espalhamos, a fé que temos e a caridade que ensinamos aos nossos. E sendo toda essa multidão, filhos de Deus, protegidos por Maria, devemos cuidar dos nossos irmãos, de sangue ou não, mas principalmente desses: nossa família - que mesmo que se separe e agregue outras, não deixa de ser a nossa - aquela que tem um anjo cuidando e protegendo enquanto houver amor. E amor é algo infinito e sem prazo de validade, deve ser cultivado por nós em todos os que fazem parte da nossa vida.
Gratidão e felicidade acho que são as duas palavras principais no momento. Não direi que é o final, também não é o começo, mas é uma página importante e iluminada dessa história que eram duas mas que vão escrever juntas alguns capítulos. E que esperamos estar multiplicando esse amor em outras famílias, convidando-as para a oração em tantos Círios que hão de vir. Apenas para lembrar que nossos gestos não passam despercebidos e que a fé é capaz de unir pessoas, como na corda que leva Nossa Senhora de Nazaré.

Um feliz e iluminado Círio a todas as famílias - católicas ou não - e que haja felicidade onde houver amor!